Educar para criticar

Sempre soube que ler é objeto fundamental do saber e que escrever é instrumentalização da liberdade.

Pra quem sempre lutou pela liberdade não é difícil entender o poder que emana do senso crítico. Afinal, foram necessários 322 anos para nos ver libertos dos Tugas e mais 66 anos para a abolição dos escravos. Um ano após esse acontecimento temos a instauração da República no Brasil, nada menos do que por um golpe de Estado que depôs Pedro II. Seguimos bem, mas sem representatividade.

Educação? Só para os abastados que viajavam pra’soropa a fim de ter o que há de mais moderno na educação. Aliás, os abastados eram todos homens, porque as mulheres precisavam se tornar experts em ponto cruz e sorrisos contidos, além de terem personalidade dócil. Corpos dóceis, disciplinados e governados nas escolas em nome da saúde, da higiene, da moral, da vontade social, da masculinidade patológica…

Bem, percebemos até aqui como a educação foi subutilizada para manter os padrões de poder na história. Não que isso não esteja acontecendo até os dias atuais.

Em um país com 519 anos, 196 de independência e 30 anos da primeira eleição direta, somos arrancados mais uma vez da nossa zona de conforto para nos libertar da demagogia imperante e crescente no mundo. Com avanços tecnológicos, que em algum momento da história foram tratados como ficção científica, tornamo-nos reféns da engenhoca que se conecta caoticamente, criando verdades absolutas, doutores de diferentes assuntos e videntes, é claro.

“Eu bem sabia que esse salafrário não era flor que se cheire. Político é tudo mais do mesmo. Pelo menos a justiça funciona”.

“Ele roubou o tio do amigo do primo do vizinho da Mariazinha. Foi o que eu ouvi falar…”

“Eu li no socialbook que se ele for eleito prefeito irá permitir o assassinato de crianças no ventre e liberar o comércio de plantinhas psicodélicas”.

Tudo com base em vídeos compartilhados por fontes honrosas, artigos escritos por filósofos e informações completas na chamada de reportagem.

“Morre homem azul encontrado na rua doutor felicidade número 171 com sinais de sufocamento. O suspeito: a educação, que sofreu mudanças nesses últimos anos e agora é tratado pela oposição como meliante precisando de reabilitação”.

E quando lutam pela liberdade de educar, de pensar, de escrever, de ensinar, de criar, de proteger e de criticar, vem um ou outro mistificar a educação e balburdiar uma resistência que se faz mesmo individualmente, com um livro, uma caneta, um caderno e uma pessoa sedenta por pensar.

15 de maio de 2019, o dia em que indivíduos se uniram para protestar.

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